Finalmente os movimentos sociais tiveram oportunidade de
comunicar ao governo federal suas opiniões sobre o Plano de
Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba, lançado em maio pela ministra
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Kátia Abreu, como a
“expansão da produção agrícola com desenvolvimento sustentável” nos
estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Foi realizada na manhã de
hoje (27) a segunda audiência pública sobre o tema na Câmara dos
Deputados, a primeira em que os movimentos sociais puderam falar e
questionar os representantes do MAPA, já que não houve qualquer consulta
ou apresentação à sociedade civil durante a construção do projeto - o
que fere a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
assinada pelo governo brasileiro.
A CONTAG e representantes de movimentos sociais deixaram bem clara a
insatisfação com o projeto, que é a consolidação de um modelo de
produção que visa apenas o desenvolvimento econômico e desconsidera o
desenvolvimento da agricultura familiar, das comunidades tradicionais,
quilombolas e indígenas, desconsidera a atividade extrativista e o modo
de vida das comunidades rurais. Além disso, a monocultura de soja, de
algodão, de milho e outros grãos compromete ainda a qualidade dos solos,
a biodiversidade e, principalmente, os recursos hídricos. A área do
Matopiba é formado em 90,9% pelo bioma do cerrado, que o berço das
principais bacias hidrográficas de nosso país.
“Trata-se de um projeto prejudicial tanto nos aspectos sociais
quanto nos aspectos ambientais. Não apoiamos um projeto de
desenvolvimento que se diz sustentável, mas que não tem qualquer
representante de órgãos ambientais e muito menos da sociedade civil.
Esse projeto é unilateralmente do agronegócio. Não podemos ter
desenvolvimento econômico a qualquer custo, ao custo da vida das pessoas
mais pobres e dos recursos naturais da nossa e das futuras gerações”,
afirmou o vice-presidente e secretário de Relações Internacionais da
CONTAG, Willian Clementino Matias.
O vice-presidente da CONTAG levantou ainda as questões dos
agrotóxicos e da informalidade dos trabalhadores do campo. “Como será a
incidência do MAPA no Programa nacional de Redução de Agrotóxicos
(Pronara)? A falta dessa definição não ajuda nem fortalece o Matopiba,
que tem um discurso de sustentabilidade, mas fomenta um modelo de
produção baseado no uso de defensivos agrícolas, que envenenam a
produção, o solo, a água e as pessoas. Eu lembro o município de Lucas do
Rio Verde (MT), onde até o leite materno está contaminado com
agrotóxico. Além disso, a informalidade no trabalho nas fazendas e a
superexploração da mão de obra são fatos muito conhecidos tanto pelos
movimentos sindicais do campo quanto pela classe patronal e a promessa
de geração de emprego é muito séria. Quais são os critérios que estão
sendo trabalhados no sentido de combater a informalidade e a exploração
dos trabalhadores?”, questionou Willian Clementino.
Estavam presentes na mesa da Audiência Pública pelo MAPA o
secretário de Política Agrícola, André Nassar, e representante da
secretaria de Defesa Agropecuária, Luís Eduardo Rangel. Pelos movimentos
sociais estavam a coordenadora geral de ONGs da Mata Atlântica, Tânia
Maria Martins, o assessor técnico da região Centro Oeste da Cáritas
Brasileiras, Paulo Henrique de Morais e a represente da Rede Cerrado,
Ana Cláudia Ribeiro, da Comunidade de Quilombolas da região do cerrado. A
CONTAG e representantes de ONGs em defesa da Mata Atlântica, do Cerrado
e de outros biomas, e também de comunidades indígenas.
O que é o Plano de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba?
Lançado em maio de 2015 pelo Ministério Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), o Plano de Desenvolvimento Agropecuário do
Matopiba é um projeto com o objetivo de expandir a fronteira agrícola do
agronegócio, fomentando a expansão da produção de grãos em uma área
imensa, de 73 milhões de hectares, em 337 municípios nos estados do
Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O nome do plano vem da junção da
primeira sílaba do nome de cada estado. De acordo com o MAPA, “o
território do Matopiba apresenta a expansão de uma fronteira agrícola
baseada em tecnologias modernas de alta produtividade” e foi construído
graças a uma parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) e o Instituto de Colonização e Reforma Agrária
(Incra).
|
||
FONTE: Assessoria de Comunicação CONTAG - Lívia Barreto |
sábado, 29 de agosto de 2015
CONTAG e movimentos sociais dizem NÃO ao Plano de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba em audiência pública na Câmara dos Deputados
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário